Pesquisa Científica
Foto: Olivier Jaudoin
Marcação
O monitoramento de aves silvestres utilizado no Brasil pelo CEMAVE/ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres) consiste na utilização de anéis (anilhas) com identificação alfanumérica e tamanho específico para cada espécie considerando o diâmetro do tarso. No caso do gavião-real utilizamos a anilha Z.
Durante a marcação de um indivíduo na natureza ou em recintos de reabilitação pré-devolução à natureza, diversas informações biométricas são coletadas, como por exemplo, o tamanho da asa, o comprimento total, o peso, o comprimento das garras e o diâmetro do tarso.
Foto: João Marcos Rosa
Dieta
As aves de rapina, como predadores, caçam animais vivos para alimentar o filhote no ninho. O gavião-real, é um dos maiores predadores do dossel em florestas tropicais, e se alimenta principalmente de mamíferos arborícolas (preguiças, macacos e porcos-espinhos), aves, e ocasionalmente répteis.
As coletas são realizadas ao redor da base da árvore, ou no ninho após escalar a árvore para a captura do filhote. Já em áreas sazonalmente inundadas, telas de coleta são dispostas na base da árvore do ninho.
Essas presas são identificadas a partir dos vestígios de ossos do crânio e mandíbula, pelos, dentes, unhas e caudas. Os fragmentos de crânios são montados e comparados com espécimes identificadas em coleções de referências e museus. Posteriormente é feita uma estimativa de indivíduos predados.
Neste sentido, podemos entender um pouco mais sobre o valor de se conhecer o recurso alimentar necessário para manter uma espécie, como o gavião-real.
O consumo das presas pelo gavião-real, revela a importância desta espécie para as florestas. Como um predador de topo de cadeia, ele controla o número de indivíduos das espécies de presas que consome. Sendo esse um processo natural, permite a manutenção do ecossistema.
Foto: Marcelo Barreiros
Genética
Os estudos genéticos do gavião-real são realizados através do uso de uma série de tipos de marcadores moleculares de DNA, que têm sido desenvolvidos desde 2005.
O pesquisador responsável por esses estudos no projeto é o biólogo Dr. Aureo Banhos. Ele iniciou os trabalhos em seu doutorado, que concluiu no ano de 2009. Pelo trabalho, Banhos recebeu o “Prêmio Novaes Ramires de Biologia e Conservação” (Sociedade Brasileira de Zoologia, em 2010), o prêmio “Prêmio Jovem Geneticista da Amazônia” (Regional Norte da Sociedade Brasileira de Genética, em 2009) e o “Prêmio Painel de Melhor Trabalho de Pós-graduação em Genética, Evolução e Melhoramento Animal” (Sociedade Brasileira de Genética, em 2008).
Atualmente, Aureo é professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo, onde continua desenvolvendo as pesquisas genéticas.
Foto: João Marcos Rosa
Telemetria
A pesquisa científica sobre a movimentação de animais na natureza é um desafio, pois alguns deles percorrem longas distâncias de difícil acesso em um curto espaço de tempo. Dispositivos de identificação e monitoramento de aves e outros vertebrados, tais como anilhas, microchips e radiotransmissores são utilizados por biólogos para acompanhar migrações locais, regionais e até mesmo intercontinentais.
A telemetria, hoje favorece que a localização de animais marcados com transmissores via satélite, seja enviada para o celular do pesquisador, por exemplo. A tecnologia do GPS, permite que o pesquisador não precise estar no local, acompanhando o indivíduo monitorado.
O Projeto Harpia iniciou em 2007 o monitoramento de indivíduos de gavião-real com esta tecnologia. No caso do gavião-real, indivíduos que passam por reabilitação e marcados com telemetria convencional (VHF), são acompanhados em campo por um biólogo por em média 15 dias. Tal tempo de monitoramento, visa confirmar se ele está voando e caçando normalmente. No caso de filhotes, que utilizam o ninho por até dois anos, o monitoramento visa identificar as áreas utilizadas no entorno e os fatores que influenciam este uso.
O Programa iniciou o uso de telemetria convencional em 2003 quando marcou o primeiro filhote no ninho, localizado no lago Cururu, Manacapuru-AM. Infelizmente, devido as características da espécie, o monitoramento convencional é limitado. Em 2007, um indivíduo filhote foi marcado com radiotransmissor via satélite (PTT - Platform Transmitter Terminal), onde pela primeira vez satélites brasileiros do INPE foram utilizados no monitoramento de animais silvestres. Os dados seriam transmitidos durante três anos, entretanto parou de funcionar após 10 meses de instalação no filhote, que ainda utilizava o entorno do ninho.
Entre 2003 e 2016, o projeto marcou 27 indivíduos de Harpia com anilhas do CEMAVE/ICMBio, 22 receberam rádio transmissor VHF e oito (cinco na Amazônia e tres na Mata Atlântica) rádio transmissor via satélite.